Almino Rocha Filho
A arqueologia faz referências aos magdalenenses, antigos caçadores e pescadores do sul da França, 10.000 anos a. C. A região era extremamente fria e seca. O homem vivia em constantes deslocamentos, acompanhando as manadas de mamutes, bisões, cavalos e cabritos-monteses. Durante o rigor do inverno, o grupo permanecia no interior das cavernas, trabalhando o sílex, o osso e o chifre de rena, no artesanato de armas e instrumentos de trabalho. Protegia o corpo com peles de animais silvestres. Mais tarde, o homem evoluiu para o pastoreio, domesticando os animais que caçava, obtendo, assim, além da carne, dos ossos e das peles, também o leite e um meio de locomoção. Por volta de 5.000 anos a. C., o grande frio deu lugar a um clima temperado e muito úmido. 0 solo cobriu-se de florestas e de campos. Os animais de clima ártico desapareceram. Os povos nômades passaram a ter vida sedentária, dedicando-se, subsidiariamente, a agricultura como meio suplementar de sustentação da família. Houve necessidade de se estabelecer uma delimitação espacial de terras, o que foi feito a custa de muitas lutas fraticidas. Ao final, cada grupo apossou-se de seu território. surgindo a. propriedade, o patrimônio conjunto de bens econômicos, direitos e obrigações, vinculado a um indivíduo ou a uma sociedade. A natural satisfação de novas necessidades passou a exigir do homem uma heterogeneidade de ação muito amplificada. Enquanto alguém se dedicava a uma atividade específica, descurava-se de outras. Os que possuíam alguns bens em abundância, careciam de outros tão ou mais importantes para a sua sobrevivência. Resultaram disso a divisão do trabalho, segundo as habilidades inatas de cada indivíduo. As pessoas, singularmente, e os grupamentos de pessoas demandaram bens econômicos e serviços para seu uso ou consumo; outras pessoas e sociedades atenderam a essa solicitação. Daí as conveniências de transferências reciprocas de utilidades de umas a outras pessoas, como atos de aquisição e entrega, concomitantes. O excedente das provisões do grupo era entregue aos vizinhos em troca de outros mantimentos, adornos, e até esposas. Chamava-se isso escâmbio, do latim escambium – troca, permuta – que variou para escambo. Frequentemente, as tribos eram atacadas por hordas remanescentes de caçadores nômades, o que exigiu a construção de habitações cada vez mais sólidas, fortificações, e organização político-militar para protegê-las. Fundaram-se as aldeias. Uma variação curiosa do escambo era o chamado comércio mudo, operacionalizado em um determinado local, onde as pessoas depositavam o excedente de sua produção, recolhendo a equivalência em outros bens deixados por terceiros e que lhes eram necessários. A prática do escambo subordinava-se, assim, à preferência dos escambistas. No final do quarto milenário, eram intensas as trocas entre os povos do Oriente Asiático. A história dos sumerianos é prenhe desses registros. Os fenícios, por serem excelentes navegadores, dominaram o comércio do Mediterrâneo, durante séculos. Já em pleno domínio da moeda metálica, consoante Heródoto (484. 425 a. C.), o escambo era praticado entre cartagineses e tribos das costas ocidentais africanas, depois das Colunas de Hércules. Mas o escambo não se restringia, apenas, à simples troca de bens por bens. Mesmo nas mais remotas sociedades, quando vigorava a escravatura, haviam homens pobres, mas livres, que alugavam a força de seus braços ou a luz de sua inteligência em troca de pagamento in natura. Os artífices são exemplos clássicos desses trabalhadores autônomos escambistas.