DISCURSO DE POSSE NA ACADEMIA SOBRALENSE DE ESTUDOS E LETRAS
Senhora presidente desta Academia, professora Chrislene Carvalho e senhor Edson Andrade, presidente de honra deste Silogeu, minha saudação! Saudação extensiva aos integrantes da mesa, aos acadêmicos desta casa e aos meus familiares: Evaneide, esposa; Marcelo e Caetano Thiene, filhos; netinhas, cunhados e amigos presentes nesta cerimônia. Boa noite! Na condição de neoacadêmico, chego a esta casa graças ao empenho dos amigos e amigas, acadêmicos, que, por uma gentileza expressada no gesto do acolhimento ao meu nome, franquearam-me o passaporte de entrada neste sodalício. Tomando posse nesta noite de 22 de novembro do ano corrente de 2019, entendo, por um dever de justiça, evocar a memória do patrono desta cadeira nº 05, e, a seguir, dos seus ocupantes e que, agora, por uma condição temporal, são meus antecessores, mas consciente de que, por uma contingência natural da vida, um dia estarei como antecessor do próximo sucessor. Cadeira esta, que foi ocupada por pessoas de renome no seio da comunidade sobralense, ou melhor, da região norte do Ceará, cujo assento me é franqueado nesta noite. Iniciada esta evocação, reporto-me, obedecida à ordem cronológica, ao nome do ilustre patrono, Antônio Domingues da Silva. Para o cumprimento desta tarefa, valho-me do texto de autoria do padre Sadoc de Araújo, contido no livro Origem da Cultura Sobralense, 2005. pg 50/51. que me foi repassado pelo radialista e jornalista Artemísio da Costa: “… O segundo sobralense a se graduar em medicina foi o ilustrado Dr Antônio Domingues da Silva. Nasceu em Sobral a 28 de julho de 1817, sendo filho legítimo do alferes Joaquim Domingues da Silva e de Florência Maria de Jesus. Viajou para a França em 1835, bacharelando-se em Letras em 1837, em Paris. Recebeu o Diploma de Doutor em Medicina da Faculdade de Montpellier, a 03 de novembro de 1843. Ao retornar da Europa um ano após sua formatura, instalou consultório em Sobral, onde prestou relevantes serviços à população e exerceu vários cargos públicos, como vereador e presidente interino da Câmara. De 1852 a 1857, como Deputado Provincial, teve influência marcante na vida social e política de Fortaleza, tendo sido um dos fundadores da Academia Francesa e primeiro Presidente do Gabinete Cearense de Leitura. Faleceu na capital cearense, a 12 de julho. de 1876, aos 58 anos”. A seguir, um breve relato das biografias dos meus antecessores. Tratam-se de figuras ilustres que deixaram para a História de Sobral, e da região noroeste do Estado, um legado de serviços e de ações nos campos da saúde e da educação. Na saúde, destaque para o Dr. Antônio Guarany Mont’Alverne, médico de renome na nossa região. Nascido em Sobral em 03 de outubro de 1912, com formatura na Universidade do Rio de Janeiro, onde especializou-se em urologia e cirurgia geral. De acordo com ARNAUD CAVALCANTE, Sociedade Sobralense, 2018, 2ª edição, p. 99/100:“Dentre os diversos cargos importantes, Dr Guarany destacou-se como presidente do Colégio Brasileiro de Cirurgia., além de ter sido participante ativo de inúmeros congressos e encontros médicos no País e no exterior. Foi o fundador do Centro Médico de Sobral. Em 08 de junho de 1940, casou-se na matriz do Patrocínio de Sobral com Maria Nadir Ferreira Gomes, com quem constituiu numerosa prole de larga projeção na sociedade sobralense. Além de possuidor de invejável folha de serviços prestados na área de saúde nesta região, bem como, com destacada atuação como diretor da Clínica Cirúrgica da Santa Casa de Misericórdia de Sobral, Dr. Guarany era dotado de elevada cultura, tanto médica, como humanística. Faleceu em 29 de janeiro de 1978, aos 65 anos de idade. O grande cirurgião recebe justa homenagem de sua terra, quando dá nome a uma das principais avenidas de Sobral.” Francisco Sampaio Sales, com destaque na Educação. Nascido em Meruoca, em 26 de maio de 1942, filho de Gabriel Francisco de Sales e de Maria Sampaio Sales, foi o último ocupante da cadeira nº 05. Passou a residir em Sobral desde 1958 quando aqui aportou para dar continuidade aos seus estudos, no Seminário São José, onde passou seis anos. Cidadão sobralense, conforme título outorgado pela Câmara Municipal desta cidade. Possuidor de um extenso currículo, merecedor de apreço, granjeou respeito e admiração no meio universitário por conta da sua formação em Letras e Engenharia Operacional pela Universidade Estadual Vale do Acaraú e detentor de Mestrado em Gestão Pública pela UVA/Universidade de Lisboa e o exercício dos cargos de pró-reitor de Pós-graduação e Pesquisa, além de pró-reitor em Educação Continuada. Afora a vivência acadêmica, o professor Sampaio, como era conhecido pela maioria da comunidade sobralense, destacou-se em atividades exercidas no campo sociocultural e em clubes de serviço. E ainda com passagem pela comunicação feita através do rádio, com o programa “Ao Cair da Tarde.” Ressalte-se que este título sempre servia de mote para a saudação, por ocasião de nossos cumprimentos. Como podem observar, os meus antecessores destacaram-se na vida profissional, cultural e social, pois foram homens merecedores de credibilidade e respeito. Igual afirmativa pode-se dizer do atual corpo acadêmico desta instituição, onde agora sou acolhido. Meu currículo é bem modesto! Daí meu cuidado de ampliá-lo com o esforço do aprendizado calcado no autodidatismo, a despeito da minha formação em Letras de Língua Portuguesa. Sou ciente de que, além da habilitação concedida pela escola, o indivíduo deve buscar, com ênfase, o conhecimento por esforço próprio a fim de capacitar-se no seu mister de cada dia. Pois não existem limites que indiquem o ponto final da absorção total do conhecimento, uma vez que todo dia, ganhamos oportunidade de aprender alguma coisa. Assim é que, arrimado neste preceito, tenho trilhado pela senda das Letras, da Literatura e da História, no afã de colher os frutos do aprendizado. Daí a razão pela qual sempre pautar a minha trajetória de aprendiz no estudo e na pesquisa voltada para as manifestações culturais da nossa gente, no nosso pedaço de chão, área com a qual me identifico bastante, embora sabedor de que a leitura dos autores clássicos não pode permanecer no campo da fragilidade da nossa indiferença. Com esse enfoque direcionado para a cultura popular, respaldada na literatura, na música e, sobretudo, no regionalismo, implica dizer que, antes de conhecer outras terras, outros mundos, é necessário sabermos elucidar o mapa do nosso chão. Daí a necessidade de conhecer, primeiro, os nossos valores, a nossa história, a fim de nos habilitar para a exploração de voos mais altos. E aqui faço uma observação bastante válida para dar suporte ao conhecimento de nós, brasileiros, que habitamos o primeiro andar do edifício da nossa cultura. Neste andar assentam-se as vigas de sustentação das dependências dos andares superiores. Assim é que neste chão nordestino, plasmado por valores culturais bastante fortes, temos as vigas estruturadas, formadas pelas inteligências de Rachel de Queiroz, Ariano Suassuna, José Lins do Rego, Rodolfo Teófilo, Luiz Gonzaga, o sanfoneiro cantador, Patativa do Assaré, Frederico Pernambucano de Melo, padre Osvaldo Chaves, padre Sadoc de Araújo, e também os produtores de literatura de cordel, bem como os compositores da nossa música de raiz. Ocupar uma cadeira nesta Academia é uma prerrogativa que me concedem os nobres acadêmicos desta casa. E, uma vez recebida esta honraria, cabe-me a responsabilidade de engrandecê-la com o cuidado da manutenção da frequência aos seus eventos, com o cumprimento das obrigações inerentes ao cargo e acima de tudo, zelar pela obediência aos preceitos estipulados no seu estatuto e plena liberdade de pensamento.