Discurso de Posse na Academia Sobralense de Estudos e Letras – ASEL
Boa noite! Meus nobres pares, estou aqui nesta noite me sentindo honrado em fazer parte dessa tão nobre associação literária e cultural, com uma história que remonta desde a segunda década do século passado, perpetuando esse rito acadêmico de incorporar-me à esta Casa de amantes do universo de estudos e das Letras. Por ter chegado aqui nesta cidade no final dos anos de 1990, iniciando uma trajetória no campo da pesquisa e educação que perduram até os dias atuais, sinto este momento como uma forma de reconhecimento por essa caminhada, que ora resulta em tão generoso gesto. Sinto-me agraciado, primeiramente, pelo lauto convite do prof. José Luís Araújo Lira a compor o Instituto Histórico e Geográfico de Sobral, assim como agora, em fazer parte juntamente com esse escol de homens e mulheres do presente e do passado que fizeram a existência dessa Academia perdurar até nossos dias. É sim um desafio poder fazer parte e colaborar com a ASEL como mais uma “pedra” a compor essa história tão exitosa. Na verdade, penso que essa noite também celebramos a amizade, o que me faz recordar as palavras de Rubem Alves quando certa vez afirmou que: “Não é somente o que eu fiz pra chegar até aqui, mas, quem me fez chegar até aqui”. Quando rememoro minha trajetória, aparecem mais pessoas a me auxiliar do que os atos próprios meus. Nessa caminhada fui colhendo amizades bem preciosas… permitam-me destacar aqui meus amigos Gabriel Assis, que deu um acolhimento exemplar quando aqui chegamos em Sobral e meu amigo e Presidente da ASEL, Arnaud de Holanda Cavalcante, pessoa a qual me aproximei pela amizade que tenho à sua família. Sua história de vida, como marido, pai e avô zeloso, tornaram-se referência para mim e minha família. Esses dois amigos que estão presentes nessa noite, estendo meu reconhecimento a todos aqueles que estiveram e ainda estão ao meu lado. Com essa lembrança, trago aqui a alegria e emoção de ter minha família presente. Minha amada esposa Liliana e minha linda filha Mariana, pessoas aos quais busco dedicar uma vida de amor e união. Elas dão o sentido maior a todas essas conquistas que, com certeza, são nossas. Senhoras, senhores, Confesso que ao ver o Patrono desta Cadeira a qual estou assumindo, de nº. 7, senti aumentar a responsabilidade no compromisso de perpetuar a memória de dois grandes intelectuais cearenses, cito primeiramente o patrono Tristão de Alencar Araripe, escritor, magistrado, jurista, heraldista e político brasileiro, um intelectual sempre presente em minhas aulas de História do Ceará. Detentor de uma vasta obra literária, tornou-se membro de inúmeras associações culturais dentre elas o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. Integrante de umas das principais famílias do Ceará, filho de Tristão Gonçalves e sobrinho de José Martiniano de Alencar, por consequência, neto da matriarca Bárbara de Alencar, “heroína” do movimento republicano das províncias do Norte em 1817 e 1824. Tristão inaugurou a escrita da história do Ceará, com seu livro, História da Província do Ceará desde os tempos primitivos até 1850, publicado em 1867, tornando-se o primeiro esforço metodológico para se escrever a história do Ceará da Colônia ao Império. Narrativa esta construída no momento em que o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB) propunha a escrita da história nacional do Império do Brasil entendida numa ampla e tensa disputa sobre como deveria ser escrita a História do Brasil no século XIX. Sua obra é considerada como a primeira tentativa sistemática de produção historiográfica sobre o Ceará. O título de sua obra é característico da sua vontade de síntese sobre a história do Ceará, visto que sua intenção também foi de construir uma história total, uma história no singular coletivo, uma história que fosse ao mesmo tempo todos os fatos e acontecimentos ocorridos no Ceará, como também uma análise sistemática desses momentos. Formou-se na Faculdade de Direito de São Paulo, em 1845, e logo foi alocado aos quadros do funcionalismo público e depois da política. Foi de Chefe de Polícia no Ceará, Espírito Santo e Pernambuco a presidente da província de São Pedro do Rio Grande do Sul, além de deputado provincial e geral pelo Ceará, Desembargador, Conselheiro e Ministro do Supremo Tribunal Federal e Ministro da Fazenda no Governo provisório em 1891. Esse percurso possibilitou que ele tivesse uma visão ampliada das condições do império, o que interferiu diretamente na sua visão política e historiográfica. Não se aparta a obra de Tristão de Alencar com suas lutas políticas, aliás, isso é que o torna ímpar. Em cada província consultou documentos históricos que serviram para os seus escritos sobre a jurisprudência e história. Por sua trajetória profissional e política, podemos defender que Tristão de Alencar esteve próximo de uma das questões principais do Estado Imperial do Brasil, a saber: a legitimação do governo do II Reinado e a consolidação do Estado Imperial. A segunda personalidade, ocupante desta cadeira, é Ataliba de Araújo Moura, um verdadeiro “educador peregrino”, um “andarilho da educação e da justiça”, sendo congratulado através do reconhecimento ao seu ofício com título de cidadão em diversas comarcas cearenses. Nascido no distrito de Santa Quitéria, em Lisieux, no ano de 1929, concluiu seus estudos no Seminário Menor de Sobral, ainda sob os auspícios de D. José Tupinambá da Frota, isso em dezembro de 1952. Em seguida, transfere-se para o Seminário Maior da Prainha, então pertencente a Arquidiocese de Fortaleza. Mesmo não acolhendo o sacerdócio, não se afasta de seus mentores religiosos e logo é convidado, devido a sua bagagem intelectual, a desempenhar funções no campo da educação, iniciando, assim, sua trajetória no magistério em várias cidades cearenses. Em Itapipoca, a exemplo, auxiliou o vigário Pe. Benedito a fundar o Educandário Nossa Senhora da Piedade, isso nos idos de 1954. Levou sua experiência também a Teresina, no Piauí, onde exerceu o magistério no Colégio Estadual Liceu Piauiense e em outros colégios dessa mesma cidade. Ao tempo em que desenvolvia seus trabalhos, formou-se em Direito e Filosofia, tornando-se, assim, Bacharel, conciliando suas atividades educacionais em Sobral (no Colégio Estadual Dom José Tupinambá da Frota) chegando à Faculdade de Filosofia Dom José Tupinambá da Frota, lecionando as cadeiras de literatura brasileira e latim. Com essas credenciais, pelo reconhecimento a toda sua trajetória, foi conduzido, ao assento da cadeira nº 7 na Academia Sobralense de Estudos e Letras, no dia 30 de maio de 1965. E aqui nos encontramos… Lembrar o nome dessas personalidades faz-se mister nessa minha iniciante trajetória, alinhado com as propostas dessa Casa: “estimular as Letras, promover as Ciências e incentivar as Artes, sob todos os aspectos, desenvolvendo a atividade cultural da cidade de Sobral e Zona Norte, com a intenção de trazer viva sua memória histórica como expressão de sua identidade cultural”. Essa missão traz a hercúlea tarefa em cultivar e zelar por nossa língua portuguesa, assim como a literatura local e nacional, acolhendo em todas as áreas do saber, visto que popularizar a leitura em uma sociedade do conhecimento midiático, fragmentária, do reducionismo e do simplório realmente é um desafio. Ainda assim, compreendo que esta Academia é o resultado desses homens e mulheres que lutaram a altura das dificuldades de cada época, e por tão grandes desafios alcançados e vencidos, trouxeram a ASEL ao que ela é hoje, com intelectuais que quase quixotescamente, lutam contra seus “moinhos de vento” com o intuito nobre de manter o conhecimento, a escrita, as letras, a salvo de muitos abusos da contemporaneidade. Entro nesta Associação com esse compromisso, em juntar-me a vocês e fazer com que a ASEL prossiga nessa missão!! Para finalizar, peço licença a todos para ler parte de uma declaração do prof. Antônio Nóvoa, da Universidade de Lisboa, quando fala a respeito da gratidão: “Há três níveis de gratidão; um superficial; outro intermediário; e um nível mais profundo. O nível mais superficial é o nível do reconhecimento, pois esse é o nível cerebral, cognitivo. O segundo nível é o nível do agradecimento; do dar graças a alguém, por aquilo que esse alguém fez por nós. O terceiro nível mais profundo de agradecimento é o vínculo; é o nível do sentimento vinculados e comprometidos com essas pessoas. É em português, que se agradece com o terceiro nível; o nível mais profundo do tratado de gratidão. Nós dizemos “obrigado”; e obrigado quer dizer isso mesmo; ficamos obrigados por vocês; ficamos obrigados perante todos. Ficamos vinculados perante vocês; nós ficamos comprometidos de nos engajarmos contribuindo de diversas formas. Ficamos obrigados, vinculados a continuar, frequentar e estudar e podemos contribuir na medida das nossas possibilidades, para com estes projetos, para com os trabalhos, para as nossas reflexões, para o nosso diálogo”. É esse sentido de gratidão que aqui expresso! Muito Obrigado.