Joab Aragão
Em 07 de setembro de 1922 o Brasil comemorou o primeiro centenário da independência. Nas festividades incluíu-se, via rádio, a fala do então Presidente da República, Sr. Epitácio Pessoa, na abertura do evento. A empresa norte-americana Westinghouse montou, nas dependências do pavilhão dos Estados Unidos, uma emissora com caráter provisório, e o Brasil pôde, assim, em terras do Rio de Janeiro, ouvir, oficialmente, pela primeira vez na sua história, sons transmitidos por ondas de rádio. Concluída a festança do centenário, os gringos desmontaram a emissora, embalaram-na num caixote e devolveram-na para os braços do tio Sam. Graças à pertinácia de Guglielmo Marconi, italiano nascido em 1874, o rádio pôde ser esse instrumento de comunicação tão amado e respeitado no mundo todo. Arrimado nas descobertas de Benjamin Franklin, no telégrafo de Samuel Morse, nas ondas eletromagnéticas de Heinrich Hertz, nas conclusões científicas de James Clark-Maxwell, Marconi mostrou para o mundo, através de ensaios, em 1897, na planície de Salisbury, na Inglaterra, que o rádio não era mais um sonho e sim uma realidade insofismável. Daí agigantou-se e tornou-se fenômeno na comunicação. Encantados com a novidade, isto é com o invento do rádio, brasileiros trataram de adquirir uma emissora puramente nacional, isenta da ameaça de gringos. E assim, sob o comando dos senhores Henrique Moritz e Roquete Pinto, inaugurava-se, em primeiro de maio de 1923, a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, a primeira emissora nacional a transmitir programas educativos, musicais e informativos, no sentido da radiodifusão. A programação, no entanto, direcionava-se para a elite, uma vez que os receptores eram importados e além do mais, bastante caros pois cobravam-se mensalidades por conta da sintonia. Logo a seguir a recém instalada estação passou a sofrer concorrência da Rádio Clube do Brasil. Por não poder competir com a rival, a Rádio Sociedade foi dissolvida, seu patrimônio entregue ao Governo Federal e aí se criou a Rádio Ministério da Educação. De 1923 a 1928 fundaram-se mais quatorze emissoras no País. Desse tempo, até hoje, perderam-se os números das emissoras existentes. A despeito de pesquisadores apontarem a Sociedade como primeira estação brasileira de radiodifusão, defende-se, por outro lado, que a Clube de Pernambuco seria a detentora dessa condição, uma vez considerado o funcionamento, em Recife, de um clube voltado para transmissões radiofônicas. Com o surgimento do rádio, apareceram o radialista, o diretor de programação, o discotecário, o sonoplasta, o operador de transmissor verbetes desconhecidos nos dicionários da época. Tratavam-se de neologismos. O radialista mantinha postura mais amadora do que profissional, porquanto não existir, no tempo, regulamentação para o exercício da profissão. Mesmo assim, havia a preocupação pela apresentação de programas bem elaborados. A Rádio Nacional do Rio de Janeiro, fundada em 12 de setembro de 1936, por conta da liderança de audiência, despertou a atenção do presidente Getúlio Vargas que, consciente do poder inerente a matérias propagadas por uma emissora de rádio do porte popular e acreditado da Nacional, em 08 de março de 1940, através do decreto-lei nº 2073, incorporou ao patrimônio da União, entre outros bens, “a) toda a rêde ferroviária de propriedade da Companhia Estrada de Ferro São Paulo-Rio Grande ou a ela arrendada; b) todo o acervo das Sociedades A Noite, Rio Editora e Rádio Nacional.” Rio de Janeiro, em 8 de março de 1940; 119º da Independência e 52º da República.
GETÚLIO VARGAS
João de Mendonça Lima
Francisco Campos Arthur de Souza Costa
Nas décadas de 40 e 50 houve a chamada “época de ouro,” período de programas de auditório, lançamentos de discos, surgimento de grandes cantores populares como Chico Alves, Orlando Silva, Carlos Galhardo, Sílvio Caldas, Emilinha Borba, Marlene, Odete Amaral, Ciro Monteiro, Ataulfo Alves, Nelson Gonçalves, Linda Batista, Caubi Peixoto, Carmem Miranda, Ângela Maria, Mário Reis, Violeta Cavalcante, Blecaute, Gilberto Milfont, Heleninha Costa, Dolores Duran, Luiz Gonzaga e tantos nomes que deixaram contribuição na formação de uma cultura radiofônica. Grandes orquestras e valorosos maestros. Criou-se a Revista do Rádio e o concurso anual para a Rainha do Rádio. Locutores de prestígio como Almirante, Ari Barroso, Renato Murce, César de Alencar. Compositores de elevado conhecimento musical tais como Ari Barroso, Pixinguinha, Benedito Lacerda, Zequinha de Abreu, J. Cascata, Leonel Azevedo, Chiquinha Gonzaga, Catulo da Paixão Cearense, Lupicínio Rodrigues, Lamartine Babo, Mário Lago e instrumentistas como Pedro Raimundo, Waldir Azevedo, Jacó do Bandolim, Abel Ferreira, Mário Genari Filho, Chiquinho do Acordeon, Altamiro Carrilho, Antenógenes Silva e João Pernambuco. A Rádio Nacional do Rio de Janeiro liderava a audiência nacional, desde a sua fundação até o surgimento da televisão como veículo de massa. O sinal das suas transmissões ultrapassava as fronteiras brasileiras, pois operando com transmissores de ondas curtas, de alta potência, o som chegava aos vizinhos sul americanos. Na década de quarenta despontou, como referência no noticiário nacional, o famoso Repórter Esso. Com a chegada da televisão, esse noticioso migrou para o novo meio de comunicação. – E as radionovelas? – Sim. As radionovelas. Algumas com capítulos, às vezes, transmitidos ao vivo, direto dos estúdios, sem direito a falhas, pois diante do rádio receptor postavam-se os ouvintes ansiosos e, acima de tudo, inquietos com o desfecho do atual e dos próximos capítulos. Via de regra, a patrocinadora, exclusiva, da trama tratava-se de uma empresa fabricante de pasta dental. ou de cosméticos, ou de comprimidos indicados para febre e dores. Em busca da felicidade figura nos anais da Rádio Nacional do Rio de Janeiro como a primeira dramatização do gênero transmitida no Brasil. Obtiveram grande audiência Jerônimo, o herói do sertão; Mulheres de bronze; O direito de nascer. Com o avanço da tecnologia, algumas delas migraram para a televisão, com nova roupagem e adaptação de textos condizentes com o sistema televisivo. O Direito de Nascer, de autoria do cubano Félix Caignet, serviu de mote até para música do carnaval de 1966. A composição musical, de autoria da dupla Brasinha e Blecaute foi gravada por Blecaute que, além de compositor, foi o intérprete da marchinha situada entre as campeãs daquele ano, que dizia assim: Ai, dom Rafael, Eu vi ali, na esquina, O Albertinho Limonta. Beijando a Isabel Cristina. A mamãe Dolores falou: – Albertinho, não me faça sofrer! Dom Rafael vai dar a bronca. E vai ser contra o direito de nascer. Tornou-se comum a instalação de serviços de alto-falantes nos bairros da periferia das cidades e vilas. Via de regra esses equipamentos, montados sobre um poste, e o estúdio num ambiente de fácil acesso servia de meio de comunicação para divulgar notas de interesse da comunidade e oferecimento de músicas entre casais de namorados, enquanto a juventude, à noite, divertia-se na pracinha do lugar. As copas mundiais de futebol, até 1966, foram, na maioria, transmitidas pelo rádio. Os brasileiros, com os ouvidos antenados nos rádios receptores, engrossavam o caldo da audiência radiofônica nacional. O rádio possuía tanta credibilidade que se costumava dizer: ´´É verdade. Eu ouvi no rádio…” – E os jornais? – O noticiário dos jornais demorava chegar à fonte leitora, pois, para isso, dependia de transportes aéreo e terrestre. O rádio não estava sujeito a essa imposição. Ora, pelo rádio, a notícia, a informação, enfim, todas as mensagens viajavam, e continuam a viajar pelas ondas hertizianas, à velocidade da luz. – A televisão teve início no Brasil em setembro de 1950, com a participação do paraibano Assis Chateaubriand na criação, mais tarde do grupo Diários Associados que integrava emissoras de rádio, de televisão e de jornais impressos.
O RÁDIO NO CEARÁ
A primeira emissora de rádio no Ceará foi a Ceará Rádio Clube, a popular PRE-9, inaugurada em 1934, com sede na rua Barão do Rio Branco em Fortaleza, com potência de apenas 500 watts, posteriormente aumentada que permitia ampla cobertura nas regiões próximas a Fortaleza. Importantes registros contém o livro 50 ANOS DE CEARÁ RÁDIO CLUBE, de autoria do Sr. Eduardo Campos – Fortaleza 1984 -, um documentário composto de 79 páginas, com o foco direcionado para essa emissora. A partir dos anos 50 passou a sofrer concorrência da Rádio Iracema, pertencente à Rede Iracemista de Rádio, empresa radiofônica que instalou estações de rádio em Maranguape, Juazeiro do Norte, Sobral e Iguatu.
O RÁDIO EM SOBRAL
Tornou-se bastante conhecida a Rádio Imperator, de propriedade do Sr. Falb Rangel. Consistia na instalação de seis autofalantes situados no topo de uma torre, situada na praça São João, com estúdio no interior do prédio do teatro. Conforme Carlos Patriolino em Sobral que eu não Esqueço, 2ªedição, pg12: Ralph Fialho, Josa Lopes, Oman Ponte, José Aguiar Frota, Dário Soares Frota, Dea Capote, Francisco Marques, Edson Donizeti, Gerardo Coelho, entre outros, foram os primeiros colaboradores da Imperator. Rádio Iracema e José Maria Soares foram intimamente interligados numa convivência de longo prazo. Nomeado diretor na data da inauguração, permaneceu no quadro de pessoal da rádio até o momento em que essa emissora foi transformada em Rádio Regional. Em 21 de junho de 1959, inaugurava-se a Rádio Educadora do Nordeste, fruto de empreendimento do Sr. José de Lima, monsenhores Aloísio Pinto e Sabino Loyola. A seguir, em 17 de junho de 1962, Rádio Tupinambá, do padre José Palhano de Saboia. Na década dos anos sessenta essas emissoras dominavam a audiência local e de toda zona norte do Ceará por meio do Jornal Falado H22 da Rádio Iracema; Nossa Discoteca às suas Ordens, da Rádio Educadora e do Seu Presente é Música, da Rádio Tupinambá. Nas noites domingueiras dançavam-se à custa do “bazar,” isto é, das músicas difundidas numa programação específica para os jovens que utilizavam espaços em residências com a finalidade de dançarem.. Existia, ainda, a programação do final das tardes, nos dias úteis, que se estendia até o horário da Voz do Brasil. Ocasiões em que, intercalados com a divulgação de músicas de cunho regionalista, irradiavam-se recados de natureza diversa, tais como a chegada ou partida de alguém do Rio de Janeiro, a viagem de outra criatura para Fortaleza ou qualquer cidade; o pedido de recolhimento do gado, num determinado dia, a fim de providenciar-se a vacinação contra a raiva ou aftosa; a ida de uma dupla de violeiros para uma cantoria num determinado lugar; uma festa dançante no final da festa da padroeira; um leilão em qualquer parte, enfim, por ser o único meio de comunicação disponível, de efeito imediato, o rádio mantinha-se firme e forte como veículo de massa bastante acreditado. Por conta nessa crença, locutores eram sempre bem vistos e acolhidos aonde chegassem. Guajará Cialdine, Tobias Alves, Marcos da Cruz, Souza Lélis, Marfisa Maura, Valneide Araújo, Onofre Viana, Gomes Farias, Zé Maria Félix, Marcelo Palhano, Zé Maria Soares, Clerton Viana, além de outros nomes que souberam muito bem edificar as bases do rádio em Sobral. Bem! As honras oficiais, até hoje, são concedidas à memória do italiano Guglielmo Marconi como inventor do rádio. Porém, existem matérias que defendem o nome do padre gaúcho Roberto Landell de Moura como o inventor desse meio de comunicação.. Um defensor destacado dessa afirmativa é o escritor Hamilton Almeida, no livro de sua autoria, “O padre Landell: o brasileiro que inventou o wireless,” isto é o sem fio. Deixemos, pois, que os pesquisadores sobre a história da radiofonia encontrem a resposta que possa definir a verdade para o tema ora questionado. Atualmente, com o avanço da tecnologia, sabe-se que se utiliza, muito pouco, as frequências em ondas médias. As ondas curtas e tropicais foram abolidas. A quase totalidade de emissoras operam em frequência modulada (FM), além de conectadas à internet. Significa afirmar que não existem mais barreiras para sintonizar-se qualquer emissora do globo terrestre.